Espaço para discussão sobre a prática do mergulho SCUBA, escolas, cursos, equipamentos, viagens, curiosidades...
(Rhea DW, 2004)
"A maioria dos mergulhadores parece agir como se ter uma credencial significa dominar todas as habilidades do esporte. Errado. A credencial significa apenas que eles possuem agora uma licença para a prática e uma vida inteira para aprender."
(Rhea DW, 2004)
"Muitas vezes vemos coisas e dizemos: Por que? Sonhamos coisas que nunca existiram e dizemos: Por que não?"
(George Bernard Shaw)
"Algo só é impossível até que alguém duvide e acabe provando o contrário".
(Albert Einstein)
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
BOAS FESTAS!
Feliz natal e um próspero ano novo repleto de realizações!
terça-feira, 9 de agosto de 2011
Mergulho Técnico no naufrágio da Corveta Ipiranga V17 (Fernando de Noronha - PE - Brasil)
Gás de fundo: Trimix 21/20
Gases para descompressão: EAN 50 e O2
Profundidade máxima: 60 metros
As Corvetas classe Imperial Marinheiro, foram originalmente concebidas, como navio guarda-costas, rebocador, mineiro e varredor. Já nos anos noventa, as unidades remanescentes mantinham apenas as características de unidade de patrulha (guarda-costas) e salvamento (rebocador). Seus trilhos para lançamentos de minas e paravanas de varredura não existem mais a bordo. Atualmente a maior restrição das Corvetas nas missões de patrulha é a sua baixa velocidade em relação às velocidades atuais dos navios mercantes. A Corveta tem uma velocidade máxima mantida de apenas 12 nós.
Realizou comissão nos penedos de São Pedro e São Paulo.
1966
Em setembro, rebocou o NB Faroleiro Santana - H 28, que havia sofrido avaria do motor proximo ao farol da Ponta do Mel, de Macau-RN para Recife-PE.
1968
Em 15 de dezembro, sob o comando do Capitão-de-Corveta Heitor Alves Barreira Júnior, partiu de Recife para realizar comissão nos penedos de São Pedro e São Paulo. Nessa comissão foi montada a estação da qual foi realizada a primeira transmissão de radio amador.
1971
Em março, durante patrulhamento do Mar Territorial Brasileiro na área do 3º Distrito Naval, a Cv Ipiranga apresou o B/P “Yeon Kwang”, de bandeira da China Nacionalista (Taiwan), que estava pescando ATUM, a 25 milhas do litoral sul do Rio Grande do Norte. Em seguida, conduziu o pesqueiro até Recife que, na época, era a sede do 3º DN. O Barco Pesqueiro depois de permanecer apresado em Recife por 15 dias, e de pagar uma pesada multa foi liberado. É interessante notar, que o Decreto-Lei que estabeleceu o Mar Territorial de 200 Milhas havia sido assinado a apenas alguns dias, e esse Barco Pesqueiro foi o primeiro estrangeiro preso nas 200 Milhas brasileiras após a entrada em vigor do novo Mar Territorial. Esse apresamento, realizado pela Ipiranga, foi noticia nos principais jornais do pais, e foi alvo de uma reportagem da revista semanal “Cruzeiro”, o mais importante semanário da época.
1979
No segundo trimestre, foi colocada como navio de prontidão permanente do SALVAMAR na área do 3º Distrito Naval.
Em agosto, resgatou quatro sobreviventes do veleiro sul-africano "Mon Amie", encalhado no Atol das Rocas, a cerca de 140 milhas de Natal. O veleiro havia deixado a Ilha de Fernando de Noronha com destino a Fortaleza. Os sobreviventes foram removidos para o 3º Distrito Naval.
1980
No segundo trimestre, foi colocada como navio de prontidão permanente do SALVAMAR na área do 3º Distrito Naval.
Participou da Operação "COSTEIREX-NORDESTE 82" realizada ao longo do litoral de Alagoas e no porto de Maceió. Também tomaram parte na operação, as Cv Purus e Forte de Coimbra, os NaPaCo Poti e Pirajá, e os NV Aratu, Araçatuba e Anhatomirim, além de tropas dos Grupamentos de Fuzileiros Navais de Salvador-BA e Natal-RN, helicópteros da Força Aeronaval (ForAerNav) e membros do Grupo de Mergulhadores de Combate (GruMec), num total de aproximadamente 600 homens.
Foi o "Navio Socorro Distrital" do 3º Distrito Naval.
1983
Em outubro, naufragou, durante uma comissão em Fernando de Noronha. Seus destroços encontram-se numa profundidade de aproximadamente 62 metros.
segunda-feira, 25 de julho de 2011
Programas de Treinamento de Mergulho - IANTD (International Association of Nitrox and Technical Divers)
domingo, 17 de julho de 2011
Mergulho pode ajudar paralíticos a recuperar sensações perdidas
terça-feira, 7 de junho de 2011
sexta-feira, 13 de maio de 2011
Mergulhador fotografa divisão entre placas tectônicas na Islândia
A matéria abaixo foi divulgada no site da UOL Notícias (Ciência).
Vale a pena conferir!
O britânico Alexander Mustard documentou um mergulho entre as placas tectônicas da América do Norte e da Eurásia, que se afastam a cada ano.
sábado, 26 de março de 2011
Matéria publicada na Revista Mergulho - Edição do mês de fevereiro de 2011
Ocorrência da câimbra no mergulho: conceitos e considerações
São poucos os mergulhadores que nunca sentiram câimbras durante um mergulho autônomo. Para aqueles que já passaram ou continuam passando por esta desagradável experiência, a câimbra pode ser considerada como uma vilã, onde a sua incidência em ambiente aquático poderá colocar em risco a segurança do mergulhador, assim como, prejudicar todo o planejamento de mergulho previamente realizado.
É importante conhecermos o que é a câimbra, quais mecanismos fazem com que ela apareça e como podemos tentar evitá-la.
Câimbras são contrações musculares intensas de um músculo isolado ou de um conjunto deles, que acontecem de forma involuntária. Estas contrações involuntárias duram alguns segundos, em geral, após um esforço físico intenso, desaparecendo repentinamente podendo-se observar um possível enrijecimento do local (MAUGHAN; GLEESON e GREENHAFF, 2000). De acordo com os mesmos autores, os músculos mais acometidos pela câimbra são o gastrocnêmio (panturrilha ou popularmente conhecido como batata da perna), os isquiotibiais (posteriores da coxa) e os abdominais. É importante destacar que estes músculos anteriormente citados são muito exigidos durante a prática do mergulho.
Conforme estudos realizados por alguns pesquisadores, os mecanismos que levam ao aparecimento das câimbras sustentam-se por quatro teorias: teoria metabólica; teoria da desidratação; teoria eletrolítica e teoria ambiental.
Segundo Foss e Keteyian, 2000, a teoria metabólica sugere que a câimbra pode ocorrer quando o músculo “intoxica-se” por metabólitos provenientes da atividade contrátil, ou seja, através do acúmulo de amônia próximo às fibras musculares, como também, do ácido lático proveniente da metabolização incompleta dos carboidratos durante o exercício (glicólise anaeróbia), que, por sua vez, libera íons de hidrogênio no interior das células das fibras musculares, aumentando a acidez do meio e afetando a contratilidade das mesmas.
A teoria da desidratação baseia-se na representatividade da redução do volume de água corporal ocasionado pela transpiração excessiva durante o exercício físico, que, consequentemente, provocará desequilíbrio dos fluidos corporais interferindo negativamente no mecanismo contrátil das fibras musculares, gerando contrações súbitas e involuntárias (GUYTON, 1988).
Conforme o mesmo autor, a teoria eletrolítica fundamenta-se na importância da presença do sódio e do potássio no processo de contração muscular, onde as ausências destes elementos contribuem significativamente para a ocorrência da câimbra. A diferença de concentração de sódio e potássio nos meios intra e extracelulares determinam potenciais elétricos nas fibras nervosas e musculares. Deficiências destas substâncias poderão ocasionar distúrbios na formação destes potenciais elétricos, afetando diretamente o controle da contratilidade das fibras musculares, gerando câimbras.
A teoria ambiental aponta mudanças extremas de temperatura, externas ao organismo, como fatores que propiciam o surgimento das câimbras. Este fenômeno ocorre devido à ação das altas e baixas temperaturas, que representam forte influência no aparecimento de distúrbios musculares. Quanto maior for a temperatura do ambiente, o que ocasionará maior elevação da temperatura corporal através do exercício físico, mais intensamente se realizarão as reações químicas que geram a contração muscular, podendo desencadear contratilidade involuntária do músculo. Na ocorrência de temperaturas muito baixas, a exposição ao frio provocará respostas fisiológicas do organismo, como exemplo, a vasoconstrição periférica. Por conseguinte, ocorrerá um prejuízo de fluxo sanguíneo para os músculos em detrimento aos órgãos vitais, podendo ocorrer o surgimento de câimbras (FOSS e KETEYIAN, 2000).
Tentativas para amenizar ou até mesmo evitar a ocorrência da câimbra, se resumem em realizarmos uma hidratação adequada, estarmos bem condicionados fisicamente, principalmente em referência ao desenvolvimento de nossa flexibilidade através da realização de exercícios de alongamento, enfatizando sempre a importância da orientação por profissionais especializados.
Uma hidratação adequada ajudará o mergulhador a evitar a desidratação e consequentemente uma possível câimbra, ao realizar um mergulho prolongado e que promova um desgaste acentuado. De acordo com Foss e Keteyian, 2000, a hidratação ideal é aquela que se inicia antes do exercício físico (pré-hidratação), ou seja, recomenda-se a ingestão de 150 ml de água a cada 15 minutos nos 60 minutos que antecedem sua prática. Segundo o autor, a hidratação deve ser contínua durante o exercício físico (100 a 200 ml a cada 10-15 minutos), porém, por razões óbvias, o mergulhador não poderá fazê-la em ambiente subaquático. Após o mergulho, a ingestão de água continua sendo de grande importância para que o organismo restabeleça sua perda, gerada pelo esforço acentuado durante a atividade. Em complemento a ingestão de água, o consumo de bebidas isotônicas ou sucos de frutas é recomendado para a reposição eletrolítica, principalmente do sódio e do potássio.
Pesquisas apontam para dados relevantes, onde em situações de princípio de afogamento em banhistas, a câimbra foi o fator principal para desencadear as ocorrências (FOSS e KETEYIAN, 2000). A prática de exercícios de alongamento antes da realização do mergulho é fundamental para “preparar” os músculos para uma exigência maior, assim como, após o seu término. As fibras musculares quando alongadas ganham maior elasticidade otimizando sua contratilidade, fator que poderá reduzir a incidência da câimbra. Muitos mergulhadores são surpreendidos por câimbras na região posterior da perna (panturrilhas), fato muito comum durante prática do mergulho autônomo, deste modo, é necessário tranquilidade para o gerenciamento e resolução do problema. O procedimento mais adequado nesta situação é segurar com as mãos as pontas das nadadeiras e puxá-las ao encontro dos joelhos.
Em depoimento particular, em certa ocasião quando realizava um mergulho técnico, fui acometido por uma violenta câimbra nas panturrilhas da perna durante a fase de descompressão, o que fez com que eu tivesse muita dificuldade para sair daquela situação desconfortável e ao mesmo tempo controlar a flutuabilidade para que permanecesse na profundidade ideal. Portanto, a preocupação com a ocorrência de câimbras, assim como, quais são os procedimentos na tentativa de evitá-la, são cuidados imprescindíveis para todo mergulhador responsável e consciente.
Ótimos mergulhos a todos, porém, livres de câimbras!
Prof. Ms. Rodrigo Nuno Peiró Correia
Referências Bibliográficas:
FOSS, M. L.; KETEYIAN, S.J. Bases fisiológicas do exercício e do esporte. Traduzido por Giuseppe Taranto. Rio de Janeiro: Guanabara koogan, 2000.
GUYTON, A.C. Fisiologia humana. Traduzido por Charles Alfred Esberard. Rio de Janeiro:Guanabara koogan, 1988.
MAUGHAN, R.; GLEESON, M.; GREENHAFF, P. Bioquímica do exercício e treinamento. Traduzido por Elisabeth de Oliveira e Marcos Ikeda. São Paulo: Manole, 2000.
quarta-feira, 2 de março de 2011
Matéria publicada na Revista Mergulho - Edição do mês de janeiro de 2011
Treinamento mental para um mergulho justo e perfeito
Sabemos que uma condição física ideal contribui significativamente para o desempenho positivo dos praticantes de um determinado esporte, o que não é diferente no mergulho autônomo. Porém, somando-se a este fator, o treinamento ou preparação mental do indivíduo para determinada atividade esportiva é fundamental para que os resultados advindos de sua prática sejam satisfatórios.
O treinamento mental ou preparação mental tem como objetivo permitir que o esportista alcance as condições ideais de rendimento através da aprendizagem e do desenvolvimento de habilidades mentais (FOURNIER,1997).
Segundo Pineschi, 2010, o treinamento mental é uma modalidade de intervenção psicológica muito utilizada pela Psicologia do Esporte. É essencialmente voltado para o contexto esportivo e otimização do rendimento, e pressupõe um foco educacional e uma relação psicopedagógica entre treinador mental e indivíduo.
Fazendo-se um paralelo com a prática do mergulho autônomo, os mergulhadores, sejam eles iniciantes ou experientes, muitas vezes se deparam com situações inusitadas ou imprevistos subaquáticos que os colocam em situação de pânico e desespero, o que pode desencadear potenciais riscos a sua integridade. Estas situações podem ocorrer durante um simples mergulho raso em águas abertas, bem como, em mergulhos mais complexos com correnteza, em cavernas, naufrágios com teto e em mergulhos descompressivos. Emergências ocorridas por falha de equipamento, ausência de luz em determinados ambientes, desorientação subaquática ou perda de flutuabilidade, exigem tomada de decisão imediata por parte do mergulhador para garantir sua segurança, bem como, de seu dupla ou equipe.
É importante destacar a necessidade da preparação mental para a realização dos mergulhos. Ela pode ser feita através da visualização antecipada das tarefas e dos procedimentos a serem realizados e, para isso, é fundamental que o mergulhador se concentre e esteja atento a todas as situações desde o início, no planejamento e na montagem dos equipamentos, bem como, na execução do mergulho e na saída do ambiente aquático.
Um programa de preparação mental envolve várias sessões e compreende três etapas principais: formação, treinamento e aplicação. A fase de formação consiste na aprendizagem de diferentes técnicas de treinamento mental, através da realização de exercícios e na identificação dos procedimentos que atendam as necessidades do indivíduo em cada uma das habilidades psicológicas incluídas no programa. O treinamento responde pela repetição das técnicas escolhidas na operacionalização (implantação de adaptações, visando maior funcionalidade), como também, na automatização e integração dos procedimentos à rotina de prática. A fase de treinamento abrange o treinamento dirigido (com presença do treinador mental) e o treinamento pessoal (sem acompanhamento, realizado no período entre as sessões de treinamento dirigido). Na etapa de treinamento, a autonomia do indivíduo é reforçada para que este seja capaz de adquirir autoconfiança. O estágio de aplicação refere-se à utilização das técnicas de treinamento mental que foram assimiladas e treinadas durante as atividades em um contexto estressante (PERREAUT-PIERRE, 2000).
Algumas habilidades mentais podem ser incluídas em um programa de treinamento mental, tais como: estabelecimento de metas (fixar objetivos e manejar pensamentos e comportamentos); relaxamento (controle voluntário da diminuição do tônus muscular); dinamização ou autoativação (aumento voluntário de energia quando o indivíduo não está suficientemente ativado para atuar de forma eficaz em treinos e práticas esportivas); diálogo interno positivo (pensamentos ou palavras pronunciadas que favorecem a motivação e dirigem o comportamento); concentração (foco nas informações relevantes durante todo o processo de execução da tarefa) e visualização. Esta última habilidade é mais utilizada e estudada em âmbito acadêmico e científico. Pode ser definida como uma experiência multisensorial, onde todos os sentidos são utilizados para criar ou reproduzir uma experiência no cérebro (MORRIS; SPITTLE e WATT, 2005).
No ano de 2010, tive a oportunidade de participar da primeira turma de um curso inédito no Brasil, denominado Essentials Diver, através da iniciativa do instrutor e representante da certificadora IANTD no Brasil, Luis Augusto Pedro, com a colaboração do instrutor José Mário Ventura. O curso possui como características principais, abordagem de técnicas de treinamento mental (visualização), técnicas respiratórias e de gerenciamento do stress no mergulho. Estas técnicas são adequadas aos diferentes níveis de treinamento em que o mergulhador se encontra.
Em depoimento pessoal, posso dizer com sinceridade que o respectivo curso me ajudou a interpretar a prática do mergulho de maneira mais consciente, segura e responsável. Portanto, fico à vontade para indicá-lo a todos os mergulhadores.
Bons treinamentos e ótimos mergulhos!
Prof. Ms. Rodrigo Nuno Peiró Correia
Referências bibliográficas:
FOURNIER, J. Pratique de l’imagerie. Bulletin d’entraînement mental. Paris: Association Francophone d’Entraînement Mental – AFEM, 1997.
MORRIS, T.; SPITTLE, M. e WATT, A. P. Mental Skills Training in Sport. In: TENENBAUM, G. & EKLUND, R. C. (org.). Handbook of Sport Psychology – 3rd ed. New Jersey: John Wiley & Sons, 2005.
PERREAUT-PIERRE, E. La gestion mentale du stress pour la performance sportive. Paris: Amphora, 2000.
PINESCHI, G. Treinamento mental e visualização no esporte. Informativo técnico-científico do Comitê Olímpico Brasileiro, 2010.
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Matéria publicada na Revista Mergulho - Edição do mês de dezembro de 2010
Mergulho autônomo recreativo: uma atividade para todos
É raro observarmos a prática do mergulho autônomo por pessoas com deficiência e mobilidade reduzida, seja ela durante os cursos realizados, saídas embarcadas de check out ou turismo, assim como, em viagens nacionais ou internacionais.
Como profissional de Educação Física, tive a oportunidade de trabalhar com estes indivíduos, planejando e aplicando atividades adaptadas que pudessem inseri-los na prática do esporte, do lazer e da recreação. Dentre estas atividades, constatei nas atividades aquáticas uma surpreendente capacidade de adaptação destas pessoas ao meio líquido, que, por sua vez, apresentaram alto índice de motivação, significativo envolvimento e engajamento no que era proposto e monitorado pelos professores.
Um ambiente aparentemente hostil para muitos, tornou-se um local de superação de limites individuais, onde os que não podiam andar em situação normal, apoiavam seus pés no fundo da piscina e procuravam se locomover com a sensação de estarem caminhando com eficácia e autonomia.
A atividade em ambiente aquático significa para a pessoa com deficiência e mobilidade reduzida um momento único. Uma situação em que consegue movimentar-se livremente, sem o auxílio de cadeiras de rodas, próteses ou muletas. Esta sensação de liberdade lhe possibilita refletir sobre suas limitações, como também, desenvolver suas potencialidades na água.
Segundo Lépore, 1999, em se tratando de pessoas com deficiência e mobilidade reduzida, juntamente com grande dificuldade de equilíbrio e desenvolvimento da marcha, as características peculiares da água como alta viscosidade, espessura e eliminação da gravidade, contribuem significativamente para a realização de exercícios de reeducação motora, proporcionando-lhes maior segurança na execução dos movimentos. De acordo com esta mesma autora, considerando-se os diversos tipos de deficiências, os seguintes efeitos podem ser obtidos com exercícios terapêuticos na água, tais como: aperfeiçoamento do equilíbrio estático e dinâmico; acréscimo ou manutenção da amplitude articular nos movimentos realizados; possível decréscimo de dores musculares e articulares; aumento da resistência muscular localizada; melhora da postura; diminuição de espasmos musculares propiciando relaxamento; favorecimento de melhor circulação sanguínea e elasticidade da pele, somado a um potencial desenvolvimento da orientação espacial e temporal.
Em complemento aos efeitos supracitados, as propriedades terapêuticas da água, assim como os aspectos motivacionais, estimulam o desenvolvimento da aprendizagem cognitiva e o poder de concentração, pois o indivíduo busca compreender o movimento de seu próprio corpo explorando as várias formas de se movimentar, adaptando suas limitações às propriedades da água (CAMPION, 2000).
Atualmente, sabemos que pessoas com deficiência e mobilidade reduzida praticam o mergulho autônomo recreativo com entusiasmo, mas em menor escala que outros indivíduos não possuidores de tais condições. Desta forma, a prática orientada do mergulho adaptado pode atuar como ferramenta motivacional e como benefício terapêutico aos seus praticantes. Tentativas de incentivo para o aumento de sua prática estão sendo realizadas por associações no exterior e no Brasil, como exemplos, a Handicapped Scuba Association International (HSA) e a Sociedade Brasileira de Mergulho Adaptado (SBMA), que primam pela especialização de seus instrutores para que ofereçam aos seus alunos a prática da atividade com supervisão, responsabilidade e segurança.
Para tanto, este incentivo à prática do mergulho adaptado necessita de um esforço conjunto, bem como, da cooperação e do apoio dos fabricantes de equipamentos, das certificadoras e das escolas de mergulho em promoverem cursos específicos, bem como, dos proprietários das embarcações para que as mesmas sejam adaptadas, gerando acessibilidade e inclusão.
Excelentes mergulhos!
Prof. Ms. Rodrigo Nuno Peiró Correia
Referências bibliográficas:
Campion, M. Hidroterapia: princípios e prática. São Paulo, ed. Manole, 2000. Lépore, M. Programas Aquáticos Adaptados. São Paulo, ed. Atheneu, 1999.
Lépore, M. Programas Aquáticos Adaptados. São Paulo, ed. Atheneu, 1999.
Matéria publicada na Revista Mergulho - Edição do mês de novembro de 2010
Mergulho, atividade física e bem-estar: um trinômio perfeito
A prática do mergulho, por mais tranquila ou complexa que seja, exige treinamento, vontade e disposição por parte do novato até o mais experiente mergulhador. Trata-se de uma atividade considerada por muitos como um esporte radical, e ao mesmo tempo não deixa de ser uma atividade física. Através de sua prática, os mergulhadores vivenciam sensações de extremo bem-estar, satisfação e motivação.
A prática de atividade física regular pode atuar efetivamente na prevenção e no tratamento de disfunções fisiológicas do corpo humano, propiciar um melhor condicionamento físico para os desafios da vida moderna, como também, assume um papel decisivo para tornar a prática do mergulho em uma atividade prazerosa e gratificante.
Um ponto específico que devemos considerar, por ser uma das razões principais onde muitos procuram o mergulho, é o bem-estar mental e psicológico que ele proporciona a seus praticantes. Desta forma, podemos fazer um paralelo com estudos científicos que comprovam que a prática constante de atividade física colabora para atenuar distúrbios psicológicos, assim como, promove a saúde mental através da elevação do humor, da função intelectual, do autoconceito e da autoestima (ARENT; LANDERS e ETNIER, 2000).
Uma das explicações mais convincentes para confirmar os benefícios psicológicos do exercício é a hipótese das endorfinas. A elevação do nível de endorfina, que é uma substância natural produzida pelo cérebro, estaria associada às mudanças psicológicas positivas induzidas pelo exercício, como a diminuição da ansiedade, da depressão, o aumento do vigor e do bem-estar (MORGAN, 1985), citado por Werneck; Bara Filho e Ribeiro, 2005.
Diversos pesquisadores buscam hipóteses que permitam atestar quais razões fazem com que o exercício físico colabore para alterações no estado psicológico dos indivíduos. São hipóteses sustentadas em um modelo fisiológico, como também, em um modelo psicológico, tais como:
Fisiológico: hipótese do fluxo sanguíneo cerebral, onde os aumentos da temperatura corporal e do fluxo sanguíneo cerebral promoveriam efeitos psicológicos positivos, como diminuição da ansiedade e da tensão nervosa.
Psicológico: hipóteses da distração, das interações sociais, do autocontrole, assim como, hipótese da expectativa de mudança, da avaliação cognitiva ou do prazer pela atividade. A interrupção de um estímulo estressante, como por exemplo, a rotina cotidiana, seria o fator responsável pela melhora do humor.
Segundo Turner; Rejeski e Brawley, 1997, estas hipóteses fazem com que os praticantes de atividade física regular, em especial, do mergulho, possam encontrar e vivenciar uma relação positiva entre o clima de integração criado pelo grupo de participantes e o sentimento de revitalização, engajamento positivo no esporte e superação de limites individuais.
Para Turnbull e Wolfson, 2002, o benefício psicológico é o resultado da interpretação mental do indivíduo sobre a atividade praticada como uma experiência agradável, o que pode explicar a diferença nas alterações psicológicas após as situações de vitória ou de derrota no esporte radical ou competitivo.
De acordo com o U.S. Department of Health and Human Services, 1996, mesmo considerando a relação positiva entre exercício e saúde psicológica, um grande percentual da população não usufrui desses benefícios, já que apenas uma pequena parcela se exercita suficientemente e a outra grande parte é completamente sedentária. Uma recente publicação brasileira revelou que apenas 13% dos adultos realizam trinta minutos de atividade física em um ou mais dias na semana, reduzindo para 3,3% quando questionados se realizavam atividade física pelo menos trinta minutos, cinco ou mais dias por semana (MONTEIRO C.A.; CONDE W.L.; MATSUDO S.M.; MATSUDO V.R.; BONSENOR I.M. e LOTUFO P.A., 2003).
Analisando-se o fato supracitado, bem como, a condição de sedentarismo em que muitos mergulhadores se encontram, essa situação poderá ser amenizada pela prática regular do mergulho, que por si só, já é considerado uma atividade física por exigir esforço físico, coordenação motora, equilíbrio, flexibilidade e concentração. Além disso, diante dos resultados das pesquisas realizadas, se os mergulhadores adotarem em sua rotina uma prática constante de outras atividades físicas, poderão ser beneficiados pela obtenção de maior estabilidade emocional, controle da ansiedade e do estresse, antes, durante e após a prática do mergulho.
Para tanto, é de fundamental importância que o mergulhador realize uma avaliação médica e procure a orientação de um profissional de Educação Física ao iniciar um programa de atividades físicas.
Bons exercícios, ótimos mergulhos e usufrua de um excelente bem-estar!
Prof. Ms. Rodrigo Nuno Peiró Correia
Referências Bibliográficas:
Arent S.M.; Landers D.M.; Etnier J.L. The effects of exercise on mood in older adults: a metaanalytic review. J. Aging Phys Activ. 2000; 8: 407-430.
Monteiro C.A.; Conde W.L.; Matsudo S.M.; Matsudo V.R.; Bonsenor I.M.; Lotufo P.A. A descritive epidemiology of leisure-time physical activity in Brazil. Pan Am. J. Public Health.1996-1997. 2003; 14: 246-254.
Morgan W.P. Affective beneficence of vigorous physical activity. Med Sci Sports Exerc. 1985;17: 94-100.
Turnbull M.; Wolfson S. Effects of exercise and outcome feedback on mood: evidence for
misattribution. J. Sport Behav. 2002; 25: 394-406.
Turner E.E.; Rejeski W.J.; Brawley L.R. Psychological benefits of physical activity are influenced
by the social environment. J. Sport Exerc. Psychol. 1997; 19: 119-130.
U.S. Department of Health and Human Services (USDHHS). Physical activity and health: a
Report of the Surgeon General. Atlanta: 1996.
Werneck, F.Z.; Bara Filho, M.G.; Ribeiro, L.C.S. Mecanismos de Melhoria do Humor após o Exercício: Revisitando a Hipótese das Endorfinas. R. bras. Ci e Mov. 2005; 13(2): 135-144.