"Most divers seem to act as though having a c-card means that they have mastered all of the skills of the sport. Wrong. The c-card only means that they now have a license to practice and a lifetime to learn."

(Rhea DW, 2004)


"A maioria dos mergulhadores parece agir como se ter uma credencial significa dominar todas as habilidades do esporte. Errado. A credencial significa apenas que eles possuem agora uma licença para a prática e uma vida inteira para aprender."

(Rhea DW, 2004)


"Muitas vezes vemos coisas e dizemos: Por que? Sonhamos coisas que nunca existiram e dizemos: Por que não?"

(George Bernard Shaw)


"Algo só é impossível até que alguém duvide e acabe provando o contrário".

(Albert Einstein)

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Matéria publicada na Revista Mergulho - Edição do mês de dezembro de 2010








Mergulho autônomo recreativo: uma atividade para todos


É raro observarmos a prática do mergulho autônomo por pessoas com deficiência e mobilidade reduzida, seja ela durante os cursos realizados, saídas embarcadas de check out ou turismo, assim como, em viagens nacionais ou internacionais.

Como profissional de Educação Física, tive a oportunidade de trabalhar com estes indivíduos, planejando e aplicando atividades adaptadas que pudessem inseri-los na prática do esporte, do lazer e da recreação. Dentre estas atividades, constatei nas atividades aquáticas uma surpreendente capacidade de adaptação destas pessoas ao meio líquido, que, por sua vez, apresentaram alto índice de motivação, significativo envolvimento e engajamento no que era proposto e monitorado pelos professores.

Um ambiente aparentemente hostil para muitos, tornou-se um local de superação de limites individuais, onde os que não podiam andar em situação normal, apoiavam seus pés no fundo da piscina e procuravam se locomover com a sensação de estarem caminhando com eficácia e autonomia.

A atividade em ambiente aquático significa para a pessoa com deficiência e mobilidade reduzida um momento único. Uma situação em que consegue movimentar-se livremente, sem o auxílio de cadeiras de rodas, próteses ou muletas. Esta sensação de liberdade lhe possibilita refletir sobre suas limitações, como também, desenvolver suas potencialidades na água.

Segundo Lépore, 1999, em se tratando de pessoas com deficiência e mobilidade reduzida, juntamente com grande dificuldade de equilíbrio e desenvolvimento da marcha, as características peculiares da água como alta viscosidade, espessura e eliminação da gravidade, contribuem significativamente para a realização de exercícios de reeducação motora, proporcionando-lhes maior segurança na execução dos movimentos. De acordo com esta mesma autora, considerando-se os diversos tipos de deficiências, os seguintes efeitos podem ser obtidos com exercícios terapêuticos na água, tais como: aperfeiçoamento do equilíbrio estático e dinâmico; acréscimo ou manutenção da amplitude articular nos movimentos realizados; possível decréscimo de dores musculares e articulares; aumento da resistência muscular localizada; melhora da postura; diminuição de espasmos musculares propiciando relaxamento; favorecimento de melhor circulação sanguínea e elasticidade da pele, somado a um potencial desenvolvimento da orientação espacial e temporal.

Em complemento aos efeitos supracitados, as propriedades terapêuticas da água, assim como os aspectos motivacionais, estimulam o desenvolvimento da aprendizagem cognitiva e o poder de concentração, pois o indivíduo busca compreender o movimento de seu próprio corpo explorando as várias formas de se movimentar, adaptando suas limitações às propriedades da água (CAMPION, 2000).

Atualmente, sabemos que pessoas com deficiência e mobilidade reduzida praticam o mergulho autônomo recreativo com entusiasmo, mas em menor escala que outros indivíduos não possuidores de tais condições. Desta forma, a prática orientada do mergulho adaptado pode atuar como ferramenta motivacional e como benefício terapêutico aos seus praticantes. Tentativas de incentivo para o aumento de sua prática estão sendo realizadas por associações no exterior e no Brasil, como exemplos, a Handicapped Scuba Association International (HSA) e a Sociedade Brasileira de Mergulho Adaptado (SBMA), que primam pela especialização de seus instrutores para que ofereçam aos seus alunos a prática da atividade com supervisão, responsabilidade e segurança.

Para tanto, este incentivo à prática do mergulho adaptado necessita de um esforço conjunto, bem como, da cooperação e do apoio dos fabricantes de equipamentos, das certificadoras e das escolas de mergulho em promoverem cursos específicos, bem como, dos proprietários das embarcações para que as mesmas sejam adaptadas, gerando acessibilidade e inclusão.

Excelentes mergulhos!

Prof. Ms. Rodrigo Nuno Peiró Correia


Referências bibliográficas:


Campion, M. Hidroterapia: princípios e prática. São Paulo, ed. Manole, 2000. Lépore, M. Programas Aquáticos Adaptados. São Paulo, ed. Atheneu, 1999.

Lépore, M. Programas Aquáticos Adaptados. São Paulo, ed. Atheneu, 1999.





Matéria publicada na Revista Mergulho - Edição do mês de novembro de 2010

Mergulho, atividade física e bem-estar: um trinômio perfeito

A prática do mergulho, por mais tranquila ou complexa que seja, exige treinamento, vontade e disposição por parte do novato até o mais experiente mergulhador. Trata-se de uma atividade considerada por muitos como um esporte radical, e ao mesmo tempo não deixa de ser uma atividade física. Através de sua prática, os mergulhadores vivenciam sensações de extremo bem-estar, satisfação e motivação.

A prática de atividade física regular pode atuar efetivamente na prevenção e no tratamento de disfunções fisiológicas do corpo humano, propiciar um melhor condicionamento físico para os desafios da vida moderna, como também, assume um papel decisivo para tornar a prática do mergulho em uma atividade prazerosa e gratificante.

Um ponto específico que devemos considerar, por ser uma das razões principais onde muitos procuram o mergulho, é o bem-estar mental e psicológico que ele proporciona a seus praticantes. Desta forma, podemos fazer um paralelo com estudos científicos que comprovam que a prática constante de atividade física colabora para atenuar distúrbios psicológicos, assim como, promove a saúde mental através da elevação do humor, da função intelectual, do autoconceito e da autoestima (ARENT; LANDERS e ETNIER, 2000).

Uma das explicações mais convincentes para confirmar os benefícios psicológicos do exercício é a hipótese das endorfinas. A elevação do nível de endorfina, que é uma substância natural produzida pelo cérebro, estaria associada às mudanças psicológicas positivas induzidas pelo exercício, como a diminuição da ansiedade, da depressão, o aumento do vigor e do bem-estar (MORGAN, 1985), citado por Werneck; Bara Filho e Ribeiro, 2005.

Diversos pesquisadores buscam hipóteses que permitam atestar quais razões fazem com que o exercício físico colabore para alterações no estado psicológico dos indivíduos. São hipóteses sustentadas em um modelo fisiológico, como também, em um modelo psicológico, tais como:

Fisiológico: hipótese do fluxo sanguíneo cerebral, onde os aumentos da temperatura corporal e do fluxo sanguíneo cerebral promoveriam efeitos psicológicos positivos, como diminuição da ansiedade e da tensão nervosa.

Psicológico: hipóteses da distração, das interações sociais, do autocontrole, assim como, hipótese da expectativa de mudança, da avaliação cognitiva ou do prazer pela atividade. A interrupção de um estímulo estressante, como por exemplo, a rotina cotidiana, seria o fator responsável pela melhora do humor.

Segundo Turner; Rejeski e Brawley, 1997, estas hipóteses fazem com que os praticantes de atividade física regular, em especial, do mergulho, possam encontrar e vivenciar uma relação positiva entre o clima de integração criado pelo grupo de participantes e o sentimento de revitalização, engajamento positivo no esporte e superação de limites individuais.

Para Turnbull e Wolfson, 2002, o benefício psicológico é o resultado da interpretação mental do indivíduo sobre a atividade praticada como uma experiência agradável, o que pode explicar a diferença nas alterações psicológicas após as situações de vitória ou de derrota no esporte radical ou competitivo.

De acordo com o U.S. Department of Health and Human Services, 1996, mesmo considerando a relação positiva entre exercício e saúde psicológica, um grande percentual da população não usufrui desses benefícios, já que apenas uma pequena parcela se exercita suficientemente e a outra grande parte é completamente sedentária. Uma recente publicação brasileira revelou que apenas 13% dos adultos realizam trinta minutos de atividade física em um ou mais dias na semana, reduzindo para 3,3% quando questionados se realizavam atividade física pelo menos trinta minutos, cinco ou mais dias por semana (MONTEIRO C.A.; CONDE W.L.; MATSUDO S.M.; MATSUDO V.R.; BONSENOR I.M. e LOTUFO P.A., 2003).

Analisando-se o fato supracitado, bem como, a condição de sedentarismo em que muitos mergulhadores se encontram, essa situação poderá ser amenizada pela prática regular do mergulho, que por si só, já é considerado uma atividade física por exigir esforço físico, coordenação motora, equilíbrio, flexibilidade e concentração. Além disso, diante dos resultados das pesquisas realizadas, se os mergulhadores adotarem em sua rotina uma prática constante de outras atividades físicas, poderão ser beneficiados pela obtenção de maior estabilidade emocional, controle da ansiedade e do estresse, antes, durante e após a prática do mergulho.

Para tanto, é de fundamental importância que o mergulhador realize uma avaliação médica e procure a orientação de um profissional de Educação Física ao iniciar um programa de atividades físicas.

Bons exercícios, ótimos mergulhos e usufrua de um excelente bem-estar!

Prof. Ms. Rodrigo Nuno Peiró Correia


Referências Bibliográficas:

Arent S.M.; Landers D.M.; Etnier J.L. The effects of exercise on mood in older adults: a metaanalytic review. J. Aging Phys Activ. 2000; 8: 407-430.

Monteiro C.A.; Conde W.L.; Matsudo S.M.; Matsudo V.R.; Bonsenor I.M.; Lotufo P.A. A descritive epidemiology of leisure-time physical activity in Brazil. Pan Am. J. Public Health.1996-1997. 2003; 14: 246-254.

Morgan W.P. Affective beneficence of vigorous physical activity. Med Sci Sports Exerc. 1985;17: 94-100.

Turnbull M.; Wolfson S. Effects of exercise and outcome feedback on mood: evidence for

misattribution. J. Sport Behav. 2002; 25: 394-406.

Turner E.E.; Rejeski W.J.; Brawley L.R. Psychological benefits of physical activity are influenced

by the social environment. J. Sport Exerc. Psychol. 1997; 19: 119-130.

U.S. Department of Health and Human Services (USDHHS). Physical activity and health: a

Report of the Surgeon General. Atlanta: 1996.

Werneck, F.Z.; Bara Filho, M.G.; Ribeiro, L.C.S. Mecanismos de Melhoria do Humor após o Exercício: Revisitando a Hipótese das Endorfinas. R. bras. Ci e Mov. 2005; 13(2): 135-144.