"Most divers seem to act as though having a c-card means that they have mastered all of the skills of the sport. Wrong. The c-card only means that they now have a license to practice and a lifetime to learn."

(Rhea DW, 2004)


"A maioria dos mergulhadores parece agir como se ter uma credencial significa dominar todas as habilidades do esporte. Errado. A credencial significa apenas que eles possuem agora uma licença para a prática e uma vida inteira para aprender."

(Rhea DW, 2004)


"Muitas vezes vemos coisas e dizemos: Por que? Sonhamos coisas que nunca existiram e dizemos: Por que não?"

(George Bernard Shaw)


"Algo só é impossível até que alguém duvide e acabe provando o contrário".

(Albert Einstein)

sexta-feira, 26 de março de 2010

Curiosidades sobre os mergulhos no naufrágio Príncipe de Astúrias, em Ilha Bela (SP)


O navio Príncipe de Astúrias naufragou em Ilha Bela-SP no ano de 1916. Faleceram 477 pessoas e 144 sobreviveram, assim como mais de 1.000 clandestinos que vieram alojados nos porões. As águas agitadas, a correnteza acentuada, a forte neblina e a versão de que a Ilha Bela-SP seria um polo magnético, acredita-se que tenham sido as principais causas que provocaram a tragédia. O sinistro foi comparado ao do Titanic, naufragado quatro anos antes (1912), coincidentemente construído pelo mesmo estaleiro escocês. O Vapor espanhol Príncipe de Astúrias tinha 150 metros de comprimento e era o orgulho da Marinha Mercante espanhola.


Logo após o naufrágio, foram realizadas operações de mergulho no local, autorizadas pela Marinha do Brasil. A primeira exploração ocorreu em 1949, quando foram retiradas 200 toneladas de chumbo.
Luiz Fernando de Castro Cunha, arqueólogo subaquático e mergulhador da Marinha do Brasil, acompanhou os trabalhos de pesquisas realizadas no ano de 1986 e 1987. Desde então, o naufrágio tem sido visitado por mergulhadores técnicos de todo o Brasil. Trata-se de uma operação de mergulho complexa, pois depende muito das condições do mar e da previsão metereológica.


O relato de uma operação de mergulho realizada recentemente no náufrágio, exprime todas estas dificuldades supracitadas. Leiam, abaixo, o depoimento do mergulhador e instrutor de mergulho Paulo Dias, publicado no site Brasil Mergulho.


"Anteriormente ao mergulho, tentei buscar com vários amigos que diziam já terem mergulhado no Príncipe de Astúrias, informações adicionais sobre o naufrágio, mas curiosamente desta vez, a todos que perguntei, obtive como resposta que não se lembravam de nada para poder passar sobre o naufrágio...esquisito...


Como de costume, em nossas operações de mergulho, sempre desço primeiro para poder passar aos demais mergulhadores as condições do mergulho e fixar o cabo de descida. O mar estava relativamente calmo, propiciando um confortável mergulho em qualquer lugar, mas depois soubemos que em qualquer lugar não significava dizer que no Príncipe de Astúrias, também.


Ao entrar na água, percebi uma forte correnteza de superfície que me impedia de chegar na bóia de marcação e somente com algum esforço consegui alcançá-la e iniciei a descida. Tudo foi tranquilo até os 20m, pois a partir daí, a visibilidade foi para zero, a correnteza ficou mais forte, a densidade da água mudou e fui atacado por milhares de camarões minúsculos que me incomodavam o suficiente para quem já não estava enxergando nada.


Ao chegar ao naufrágio, literalmente no tato, tive a sensação de que a água estava tão densa que parecia me envolver como um carinho aconchegante...esquisito... Os camarões que me atavam pararam repentinamente...esquisito...Vozes eu não ouvi, mas...Pen-pen ouvi sim, como se fosse o barulho de um martelo a bater em uma bigorna...esquisito... Estava parado, ajoelhado ao casco, e mesmo assim estava me deslocando ou as coisas estavam passando por mim em grande velocidade...esquisito... Decidi apagar a lanterna, pois o fato de estar com ela acesa sem poder enxergar um centímetro à frente, estava me deixando inquieto. Apaguei e olhei para frente, como se quisesse encarar o que não se podia ver e flashes de luzes começaram a aparecer...esquisito... Pensei então: Não sei e não quero saber o que está acontecendo, só sei que vou sair daqui é agora! Que nada !! Tentei sair, porém, minha nadadeira estava presa em alguma coisa ou algo estava segurando ela, impedindo qualquer movimento meu...esquisito? Apavorante!!Fechei meus olhos, relaxei os músculos e fiz uma prece em homenagem aos mortos que ali pereceram, pedi ajuda, compreeensão e licença aos espíritos que por lá estivessem. Ao terminar minha prece, minhas nadadeiras se soltaram e eu pude regressar à superfície sem nenhum problema. Já no barco, comuniquei aos demais mergulhadores das péssimas condições da água e que recomendava que o mergulho fosse abortado. A frustração estava estampada em todos nós, afinal, conseguir chegar até ali e não mergulhar era demais.


Relutante em não desistir, ainda voltei a mergulhar por mais três vezes na esperança de encontrar alguma melhor condição, mas não deu...Impressionante é que toda a mancha de turbidez se concentra unicamente na área do naufrágio. Alguns metros depois, a água já está calma e clara...esquisito...Esta condição persiste em praticamente todos os dias do ano e acredito que com muita sorte, somente em 10 dias de um ano inteiro se possa encontrar alguma condição favorável ao mergulho e, mesmo assim, com uma visibilidade máxima de 3 metros nos melhores dias...


Deixando o mérito de ser este um mergulho sobrenatural, no mínimo me reservo a garantir que é muito esquisito. Mergulhar no Príncipe de Astúrias é, com certeza, um dos mergulhos mais complexos de se realizar, requerendo do mergulhador não somente técnica, mas também algo que vai além de nossa compreensão lógica".


Vejam a seguir, algumas imagens de um mergulho técnico no naufrágio Príncipe de Astúrias.









quarta-feira, 10 de março de 2010

O "Monte Everest" do mergulho em naufrágios

Construído nos estaleiros de Ansaldo em Sestri, Gênova, o luxuoso transatlântico Andrea Doria, que levava o nome do Príncipe e Almirante italiano do século XVI, foi lançado ao mar em 1951.

Com um comprimento de 197 metros, uma boca de 27 metros e um deslocamento de 29.083 toneladas, foi um dos mais luxuosos transatlânticos construídos, com acomodações para 1.241 passageiros e 575 tripulantes.

Às 23:10 hs do dia 25 de julho de 1956, quando navegava de Gênova para Nova York, sob o comando do capitão Piero Calamai, num forte nevoeiro ao largo da ilha de Nantucket, o transatlântico foi atingido a estibordo pela proa da embarcação sueca Stockholm. O impacto foi extremamente forte, pois a proa da embarcação sueca era reforçada para que pudesse navegar em mares congelados.

O golpe recebido foi mortal, um rombo de cerca de 25 metros foi aberto e um grande volume de água entrava pelos porões e decks, começando a adernar a embarcação. O Stockholm, mesmo com a proa totalmente destruída, ainda tinha condições de navegar e ficou para auxiliar o resgate.

À bordo do Andrea Doria haviam 1.705 pessoas e da Stockholm 747.

Uma série de pedidos de socorro e informações sobre a situação foi enviada pelas duas embarcações. Para o salvamento, além da Stockholm que recolheu 533 pessoas, a Ille de France que recolheu 760 pessoas, a Cape Anne, a Private William H.Thomas e o destróier americano Edward H. Allen, participaram do resgate. Cinco pessoas foram resgatadas por helicópteros devido ao seu grave estado.

O Andrea Doria levou cerca de 10 horas para afundar. Foram salvas 1659 pessoas e houveram 51 mortes, das quais, 5 tripulantes da Stockholm e 46 pessoas do transatlântico italiano. A grande maioria dos óbitos ocorreu no impacto inicial.

No dia seguinte ao naufrágio, dois mergulhadores, Peter Gimbel e Joseph Fox, utilizando como marcação a bóia deixada pela guarda costeira, foram os primeiros mergulhadores a chegarem ao naufrágio e nele tirar as primeiras fotografias. Estas fotos foram vendidas para a revista Life e publicadas nas edições de 6 e 13 de agosto do mesmo ano.

O próprio Gimbel, em 1973, iniciou os trabalhos para o resgate de um dos cofres do transatlântico. Isto só foi conseguido em 1981, quando um dos cofres foi colocado a salvo no tanque de tubarões do New York Aquarium. Isto foi feito para que houvesse tempo para organizar a abertura do cofre, com ampla cobertura televisiva e venda dos direitos de divulgação.

O cofre foi aberto no dia 16 de agosto de 1984 e continha apenas certificados americanos e papel moeda italiano, já bastante deteriorados.

O naufrágio se encontra a uma profundidade de 72 metros e é muito procurado por mergulhadores técnicos. O local é constantemente varrido por fortes correntezas e a visibilidade é bem limitada, fatores que concorreram para acidentes e óbitos de diversos mergulhadores.

É necessário treinamento adequado e somente mergulhadores técnicos, credenciados como Trimix Diver, podem realizar este mergulho profundo.

Logo abaixo, assistam a um vídeo ilustrativo que relata a operação de mergulho a este naufrágio considerado o "Monte Everest" do mergulho scuba.

Bom divertimento a todos!
Rodrigo N. P. Correia.





segunda-feira, 8 de março de 2010

Um pouco de história do Mergulho

O termo SCUBA é o acrônimo em inglês para Self-Contained Underwater Breathing Apparatus (Dispositivo para respiração subaquática autocontido). Estas iniciais começaram a ser utilizadas em 1939 na Marinha dos Estados Unidos da América, para se referir aos rebreathers dos homens-rã. Um equipamento SCUBA fornece o ar necessário a quem pratica mergulho autônomo (recreacional ou técnico).


Mergulho autônomo é a prática que consiste em submergir total ou parcialmente na água utilizando-se de equipamento autônomo de respiração, o equipamento de mergulho.

Por ter consigo uma fonte de ar comprimido, o mergulhador pode permanecer mais tempo submerso do que nas técnicas da apnéia e/ou snorkeling, e não está ligado à superfície por umbilicais de ar.

O mergulhador autônomo tipicamente movimenta-se sob a água utilizando-se de nadadeiras. Entretanto, alguns mergulhadores podem movimentar-se com a ajuda de um DPV (Diver Propulsion Vehicle), comumente conhecido como "scooter".

Em 500 AC, o historiador grego Heródoto já relatava que o rei Xerxes da Pérsia contratou o escultor e mergulhador Scyllias e sua filha Cyana para buscar tesouros no oceano, em apnéia. Cyana é portanto a primeira mulher mergulhadora que se tem noticia.

Aristóteles, filósofo da Grécia antiga, em “Problemata” narrou a descida de mergulhadores no ano de 332AC, para destruir obstáculos no porto sob determinação de Alexandre O Grande, assim como sua própria descida para inspecionar o trabalho. Provavelmente este mergulho se deu em um sino de mergulho primitivo.

No ano de 1865, os franceses Benoit Rouquayrol e Auguste Denayrouse patentearam o primeiro aparelho de respiração autônoma. Com ele era possível respirar por alguns minutos apenas. Em 1933, o capitão da marinha francesa Yves Le Prieur, baseado no aparelho de Rouquayrol-Denayrouse, acoplou uma válvula de demanda a um cilindro de ar comprimido de alta pressão desenvolvendo o primeiro equipamento realmente autônomo de mergulho, eliminando por completo os cabos e mangueiras. Entretanto, este equipamento fornecia ar constantemente ao mergulhador desperdiçando boa parte do seu reservatório, diminuindo assim o tempo de mergulho.

A solução foi encontrada pelos franceses Jacques Yves Cousteau (tenente da marinha francesa) e Emile Gagnan (engenheiro da Air Liquide) em 1942/1943, quando projetaram uma válvula que oferecia ar ao mergulhador quando inspirasse. Esta válvula ligada ao cilindro de alta pressão, batizado de Aqualung, alterou por completo o mundo do mergulho, permitindo maior tempo de submersão, conforto e segurança.