"Most divers seem to act as though having a c-card means that they have mastered all of the skills of the sport. Wrong. The c-card only means that they now have a license to practice and a lifetime to learn."

(Rhea DW, 2004)


"A maioria dos mergulhadores parece agir como se ter uma credencial significa dominar todas as habilidades do esporte. Errado. A credencial significa apenas que eles possuem agora uma licença para a prática e uma vida inteira para aprender."

(Rhea DW, 2004)


"Muitas vezes vemos coisas e dizemos: Por que? Sonhamos coisas que nunca existiram e dizemos: Por que não?"

(George Bernard Shaw)


"Algo só é impossível até que alguém duvide e acabe provando o contrário".

(Albert Einstein)

quarta-feira, 2 de março de 2011

Matéria publicada na Revista Mergulho - Edição do mês de janeiro de 2011





Treinamento mental para um mergulho justo e perfeito

Sabemos que uma condição física ideal contribui significativamente para o desempenho positivo dos praticantes de um determinado esporte, o que não é diferente no mergulho autônomo. Porém, somando-se a este fator, o treinamento ou preparação mental do indivíduo para determinada atividade esportiva é fundamental para que os resultados advindos de sua prática sejam satisfatórios.
O treinamento mental ou preparação mental tem como objetivo permitir que o esportista alcance as condições ideais de rendimento através da aprendizagem e do desenvolvimento de habilidades mentais (FOURNIER,1997).

Segundo Pineschi, 2010, o treinamento mental é uma modalidade de intervenção psicológica muito utilizada pela Psicologia do Esporte. É essencialmente voltado para o contexto esportivo e otimização do rendimento, e pressupõe um foco educacional e uma relação psicopedagógica entre treinador mental e indivíduo.

Fazendo-se um paralelo com a prática do mergulho autônomo, os mergulhadores, sejam eles iniciantes ou experientes, muitas vezes se deparam com situações inusitadas ou imprevistos subaquáticos que os colocam em situação de pânico e desespero, o que pode desencadear potenciais riscos a sua integridade. Estas situações podem ocorrer durante um simples mergulho raso em águas abertas, bem como, em mergulhos mais complexos com correnteza, em cavernas, naufrágios com teto e em mergulhos descompressivos. Emergências ocorridas por falha de equipamento, ausência de luz em determinados ambientes, desorientação subaquática ou perda de flutuabilidade, exigem tomada de decisão imediata por parte do mergulhador para garantir sua segurança, bem como, de seu dupla ou equipe.

É importante destacar a necessidade da preparação mental para a realização dos mergulhos. Ela pode ser feita através da visualização antecipada das tarefas e dos procedimentos a serem realizados e, para isso, é fundamental que o mergulhador se concentre e esteja atento a todas as situações desde o início, no planejamento e na montagem dos equipamentos, bem como, na execução do mergulho e na saída do ambiente aquático.

Um programa de preparação mental envolve várias sessões e compreende três etapas principais: formação, treinamento e aplicação. A fase de formação consiste na aprendizagem de diferentes técnicas de treinamento mental, através da realização de exercícios e na identificação dos procedimentos que atendam as necessidades do indivíduo em cada uma das habilidades psicológicas incluídas no programa. O treinamento responde pela repetição das técnicas escolhidas na operacionalização (implantação de adaptações, visando maior funcionalidade), como também, na automatização e integração dos procedimentos à rotina de prática. A fase de treinamento abrange o treinamento dirigido (com presença do treinador mental) e o treinamento pessoal (sem acompanhamento, realizado no período entre as sessões de treinamento dirigido). Na etapa de treinamento, a autonomia do indivíduo é reforçada para que este seja capaz de adquirir autoconfiança. O estágio de aplicação refere-se à utilização das técnicas de treinamento mental que foram assimiladas e treinadas durante as atividades em um contexto estressante (PERREAUT-PIERRE, 2000).


Algumas habilidades mentais podem ser incluídas em um programa de treinamento mental, tais como: estabelecimento de metas (fixar objetivos e manejar pensamentos e comportamentos); relaxamento (controle voluntário da diminuição do tônus muscular); dinamização ou autoativação (aumento voluntário de energia quando o indivíduo não está suficientemente ativado para atuar de forma eficaz em treinos e práticas esportivas); diálogo interno positivo (pensamentos ou palavras pronunciadas que favorecem a motivação e dirigem o comportamento); concentração (foco nas informações relevantes durante todo o processo de execução da tarefa) e visualização. Esta última habilidade é mais utilizada e estudada em âmbito acadêmico e científico. Pode ser definida como uma experiência multisensorial, onde todos os sentidos são utilizados para criar ou reproduzir uma experiência no cérebro (MORRIS; SPITTLE e WATT, 2005).

No ano de 2010, tive a oportunidade de participar da primeira turma de um curso inédito no Brasil, denominado Essentials Diver, através da iniciativa do instrutor e representante da certificadora IANTD no Brasil, Luis Augusto Pedro, com a colaboração do instrutor José Mário Ventura. O curso possui como características principais, abordagem de técnicas de treinamento mental (visualização), técnicas respiratórias e de gerenciamento do stress no mergulho. Estas técnicas são adequadas aos diferentes níveis de treinamento em que o mergulhador se encontra.

Em depoimento pessoal, posso dizer com sinceridade que o respectivo curso me ajudou a interpretar a prática do mergulho de maneira mais consciente, segura e responsável. Portanto, fico à vontade para indicá-lo a todos os mergulhadores.

Bons treinamentos e ótimos mergulhos!

Prof. Ms. Rodrigo Nuno Peiró Correia


Referências bibliográficas:


FOURNIER, J. Pratique de l’imagerie. Bulletin d’entraînement mental. Paris: Association Francophone d’Entraînement Mental – AFEM, 1997.
MORRIS, T.; SPITTLE, M. e WATT, A. P. Mental Skills Training in Sport. In: TENENBAUM, G. & EKLUND, R. C. (org.). Handbook of Sport Psychology – 3rd ed. New Jersey: John Wiley & Sons, 2005.
PERREAUT-PIERRE, E. La gestion mentale du stress pour la performance sportive. Paris: Amphora, 2000.
PINESCHI, G. Treinamento mental e visualização no esporte. Informativo técnico-científico do Comitê Olímpico Brasileiro, 2010.

2 comentários: