Muitos mergulhadores tomam conhecimento da doença descompressiva, sua prevenção, suas consequências, apenas durante a realização de seus cursos, o que muitas vezes cai no esquecimento com o passar do tempo, com a rotina dos mergulhos e com a certeza de que com eles nunca acontecerá.
A seguir, algumas informações e considerações importantes sobre a doença descompressiva (por Divers Alert Network - DAN):
O QUE É DOENÇA DESCOMPRESSIVA ?
A doença descompressiva é uma síndrome clínica cujo conjunto de sinais e sintomas são consequência direta dos efeitos da presença de bolhas de gás nos tecidos e na circulação sanguínea. Ela é uma doença disbárica causada pela liberação de bolhas de gás dissolvidas nos tecidos ou no sangue. Bolhas podem formar-se no corpo do mergulhador, do aviador e dos trabalhadores em ambientes pressurizados. Elas ocorrem quando o indivíduo é exposto a uma redução na pressão ambiente, a chamada descompressão, causando os sinais e sintomas da doença descompressiva. As sequelas desta entidade clínica variam desde morte, dano neurológico permanente até mesmo completa recuperação. As manifestações da doença descompressiva resultam da presença de bolhas formadas nos tecidos ou na circulação sanguínea como resultado de variações na pressão ambiente. Essas bolhas podem acarretar sintomas decorrentes de lesões diretas numa determinada estrutura afetada, produzidas mecanicamente sobre os tecidos. Lesões indiretas decorrentes do bloqueio da circulação dos vasos sanguíneos também podem ocorrer. Embolia arterial gasosa pode ocorrer quando o gás entra na circulação. Usualmente, isso ocorre quando há dano descompressivo nos pulmões ou embolia pulmonar. Êmbolos podem chegar até o cérebro e produzir sintomatologia específica. Mais recentemente a Divers Alert Network tem usado um sistema de definição de doença descompressiva por sintomas. Casos considerados leves, somente dor, apresentam sintomas do tipo fadiga, coceira, rash cutâneo, inflamação local, dor muscular ou articular. Os casos graves, considerados sérios, se caracterizam por manifestações neurológicas como dor de cabeça, fraqueza muscular, alterações visuais, auditivas, de sensibilidade e motricidade, da memória, da personalidade, disfunção intestinal e da bexiga e queixas cardiopulmonares que podem evoluir à insuficiência respiratória, ao choque e até mesmo à morte. A embolia arterial gasosa acarreta rápido início de sintomas cerebrais geralmente seguidos de alterações da consciência. Usualmente os sintomas da embolia arterial gasosa estão associados a subidas rápidas e se manifestam tão logo ocorra a emersão. No mergulho recreacional, a maior parte dos sintomas é neurológica. Segundo dados relatados pela DAN, mais da metade dos mergulhadores que são vítimas de doença descompressiva, apresenta sintomas em até uma hora após o mergulho, 30% apresentam sintomas logo após emergir, 10% apresentam sintomas antes do último mergulho e menos de 10% apresentam sintomas 48 horas após o último mergulho. Muitas vezes sinais sutis são difíceis de valorizar, pois não diferem muito de sintomas comuns que todos apresentam habitualmente na vida normal. Não é incomum observar mergulhadores com sintomas leves que continuam mergulhando até surgirem sintomas mais bem definidos e se configurarem em situações dramáticas. Existe a doença descompressiva esperada, que inclui os casos em que há, pelo menos, a violação de uma regra do mergulho, e a inesperada, em que o mergulhador faz tudo certo e mesmo assim apresenta a doença. Mais de 50% dos casos são inesperados e não se identifica qualquer violação de regras do mergulho. Como a desordem não é tão frequente, é comum que muitos não a reconheçam. Os casos de doença esperada são fáceis de reconhecer, pois aquele que desenvolve a doença, sabe que mergulhou fora dos limites não-descompressivos ou subiu muito rapidamente. A maior consequência relacionada à demora do reconhecimento da doença é um pior resultado na recompressão. A recompressão precoce está associada a melhores resultados em termos de recuperação de funções e cessação dos sintomas. Cabe salientar que a análise dos relatos das várias séries de casos revela que a demora em relatar e tratar novos casos se mantém a mesma, apesar dos esforços de se divulgar informação para o tratamento precoce dessa patologia.